quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natal dos Tristes

           O tempo caminha a passos largos para o dia de natal, o frio já se faz habituar e tem caído geadas dissimulando a neve que não vai cair, mas não é só a neve que não vai existir naquele dia, a noite de consoada impera no imaginário como das noites mais importantes do ano, mas existe uma terra onde a noite da consoada é um acto desumano de união. Todos os anos um grupo de amigos e pessoas que não pertencem a esse grupo juntam-se num armazém para celebrar o aniversário do menino, para celebrar a generosidade do pai natal, para celebrar outra qualquer convicção ou apenas a falta de uma; naquela terra o jantar da consoada é como outro qualquer jantar, talvez a única diferença é ter um menu igual todos os anos, assim como o facto de acabado o jantar as famílias dessas pessoas efectuam a mesma rotina de todos os dias do ano, então nessa mórbida solidão esses amigos acabam por sair e andarem à deriva nas ruas tristes, acabando sempre a noite naquele armazém juntos, uns trajados com camisolas da Dolce Gabana e ténis Merrell partilhando o mesmo momento com aqueles que têm as calças rasgadas por causa dos anos de uso diário, eles também são humanos, um dia foram ensinados a partilhar, eles também tentam que aquele aniversário seja como tantos outros aniversários e muitos ou quase todos aqueles amigos acabam-se por embebedar, mas hoje têm uma boa razão para o fazer, para esquecerem a família encenada que não têm. Naquele dia, ali, todos são iguais, todos são alegremente e amarguradamente tristes.  

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dejá Vu

               Dejá Vu! É exasperante tentar perceber! Olho para esta avenida de sonhos desfalecidos, desfocados em esperanças vãs, mas elucidativas. Estou cansado, sento-me descaindo os braços pelas pernas, concentro-me em intransitivas realidades, não que me apeteça, mas porque assim o tempo me obriga, penso e repenso chegando sempre à mesma conclusão; trago em mim uma necessidade enorme de beber, o álcool é o maior calmante da alma, ajuda momentaneamente a esquecer a razão pela qual começamos a beber, reduz o nosso ego a uma ingénua e enganadora felicidade, pego na garrafa fechada e deixo-me cair para trás, mantenho-me deitado nesta estrada de ambições desfiadas até que o tempo me traga a sabedoria de desistir. E é sem perceber nada que neste abismo de mágoas que me penduro, tento facetar o olhar para extrair algo de positivo de todos os acontecimentos que me obrigam a escrever, não que eu não goste de escrever, mas pelo motivo que o tenho de fazer, faz-me por em causa tudo e mesmo o pouco talento que poderia ter tido acho que o perdi. Sou apenas uma (des)ilusão e tudo o que faço é um espelho disso, por tudo isto é que a resignação é a única via para a socialização.         

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Alquimia Invertida

               O silêncio é rasgado pelo impetuoso coro de onomatopeias vociferadas por Dexter Holland e seus comparsas, acordo no meu leito de inquietudes, aproveito os últimos dias de Verão, levanto-me com a cabeça dispersa em tantos lados, apresso-me no tempo que se desenvolve, que estranho, parece que a noite trocou com o dia, está escuro, aliás muito escuro; também parece que o mar se mudou para o céu, está aguerrido nos projécteis diluídos que expele nas suas marés, uma preparação para o Inverno, talvez, mas vai ensaiando um dissimulado sorriso de timidez e breves aparências solares; estão reunidas as condições para a melancolia, sustentadas pelo ambiente quente que está no carro, pelo desprezo que sinto pelas músicas que estão a passar na rádio, faz-me silenciar tudo e desenvolver uma das minhas corrosivas lembranças de hoje, a descaracterização de um amigo, ele parece como o tempo de hoje, inesperado, lamentável, sinto-me apreensivo pelo seu desalento, ele tem o seu coração maniatado pela sua auto-estima, que ao ver a hipótese de ser feliz, recua por achar que não tem capacidade para tanta responsabilidade, por se achar inferior a tudo, refugiando-se na arrogância, num Mundo recriado e viabilizado pelos filmes que vê, tentando dissolver esta felicidade em esquecimento, sorrindo, por vezes, para esquecer o que lhe faz sofrer. Não sei como o hei-de ajudar? Não o gosto de o ver assim, amargurado, apesar de hoje ter-me parecido bem, um pouco sarcástico, mas está estável, amanha será uma incógnita, está despedaçado pelo seu amor, encontra-se desiludido, ele tem se parecido tanto comigo!                    

sábado, 30 de outubro de 2010

Halloween Experiences

(It kills the time until it is half night…)

Silence takes possetion of the town,
The long night erased the sun,
The witches and monsters crush the prison down,
Cries out and scares people for fun.
(Unleash your Nightmares…)

Drop off your mask
And put the other at your face,
Singing with the one terrific voice and smiling ask:
Trick or treat?
(Start your Vendetta…)

Your fears disappear in the water,
Today you return to the times of teen,
Smash the pumpkins of your father
And just enjoy your own Happy Halloween.
(You are the lost child in its empty minds…)

(Exist something strange in your heart…seems…seems off!)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Virgem Suta - Linhas Cruzadas

(Pedia uma melódia mais entusiasmante, apesar de estar banalizada, fica aqui esta letra muito sui generis) 

Reajo a esse incomodo olhar
Nem quero acreditar
Que vem na minha direção
Há dias que estou a reparar
Nem queres disfarçar
Roubas a minha atenção
Aprecio o teu dom de tornar
Num clique o meu falar
Numa total confusão
Confesso que só de imaginar
Que te vou encontrar
Me sobe à boca o coração

(Refrão)
E falas de ti
E Falas do tempo
Prolongas o momento
De um simples cumprimentar
Falas do dia
Falas da noite
Nem sei que responda
Perdido no teu olhar

É certo que sempre ouvi dizer
Que do querer ao fazer
Vai um enorme esticão
Mas haverá quem possa negar
Que querer é poder
E o nunca é uma invenção
Bem sei que este nosso cruzar
Pode até nem passar
De um capricho sem valor
Mas porque raio hei-de evitar
Se esse teu ar
Me trouxe ao sangue calor

(Refrão)
E falas de ti
E Falas do tempo
Prolongas o momento
De um simples cumprimentar
Falas do dia
Falas da noite
Nem sei que responda
Perdido no teu olhar

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Displicência

               Ainda o tempo é uma formalidade já eu ando ensaiando um protótipo de semelhanças para ir trabalhar, a rua parece um espelho com traços celestiais, o céu assemelha-se a um quadro melancólico delineado em tonalidades de cinzento, ouve-se a água a movimentar-se por entre os descampados e as casas que sustentam a civilização, do vento ouve-se um murmúrio insistente que nos traz à memória tempos antigos, enquanto a chuva parou por entre as esperanças dos que se aventuram neste desassossego. Parou, assim como eu, sentei-me nesta conjugação disfarçando imagens, tudo é um pretexto e nada uma resposta para tudo, faltam-me palavras, ideias, gestos; reparo que a chuva é como as pessoas, por vezes desejada, por vezes rejeitada, ora forte, ora fraca, ela também sofre de solidão, mas tem a solução de nesses momentos vir ter com todos nós, quando está aliviada desaparece por entre o rasto denunciante; hoje precisava de ti, para me arrefeceres, para sentir uma presença. A minha madrinha e a minha heroína tentaram, eu tentei indo ao café, mas não resultou, hoje precisava de mais, apetecia-me ser como a chuva, para não ter que dar explicações para ser feliz. Instalou-se em partículas uma ténue neblina no ar, nas minhas imagens, no meu coração, em tudo o que é bonito, parece que por hoje chega de ver realidades.   

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sociologia à Máquina de Escrever

           Tive um sonho estranho! Sonhei que estava em casa e batiam-me à porta, ia abrir e exclamava que era a perfeição, ela respondia que era um mito, perfeição é apenas um termo da paixão; nesta confusão de linguística acordei irritado e com força para criticar, a primeira conclusão a que cheguei é que a vida é um supermercado e nós aquelas pessoas que colocam rótulos nas coisas, afinal fazemos isso toda a vida, rotulamos pessoas, até mesmo aqueles que dizem odiar rótulos, parte-se do pressuposto que odeiam as pessoas que os aplicam, mesmo sem as conhecerem, aplicam-lhes um rotulo também. Todos nós temos rótulos, todos temos um prazo, todos um dia estaremos na prateleira, noutro dia no lixo, vivemos das comparações e de frases ou ideias pré-concebidas, vivemos da opinião dos outros, apesar de dizermos que não nos afecta, vivemos do rótulo que os outros nos dão, da simpatia dos repositores e das tabelas estipuladas por mais alguém de rótulos. Confuso? Patético?
            Segunda conclusão a que cheguei é que um perdedor é sempre um vencido, mesmo quando vence essa vitória não é verdadeira, ela apenas atenua a derrota. Vejamos pelo sexo feminino, uma espécie esplêndida, admirável; uma pessoa com uma boa escolha musical revela a sua personalidade! Rótulos e tabelas (outra vez), eu tenho as minhas e todos temos os nossos parâmetros para avaliar pessoas, baseando-me nas minhas tabelas cheguei a uma conclusão e deixo uma questão de difícil compreensão, pelo menos para mim, porque é que existe mulheres, que preenchem vários requisitos, de tabelas díspares, rotuladas com potencial, adoptam uma postura arrogante (uma vantagem de qualquer mulher bonita), um estatuto de intocáveis durante o pré e pós universidade e quando estão de fim-de-semana durante o período universitário, todavia quando estão na Universidade perdem todas as directrizes que tinham tomado até agora, parecem fúteis, básicas, algumas a tocarem o desinteresse? Chega a ser ridículo o ar megalómano que certas pessoas passam atreladas a pessoas da mesma estirpe ou pior das que rejeitavam. Afinal o que é que mudou?
           Eu também tenho rótulos e até acho que acabei de ganhar mais uns quantos, mas na verdade quem é que na vida já não se deparou com estes casos? Por vezes a ambição leva-nos ao ridículo e quando nos deparamos com o vazio esquecemos o que um dia criticávamos. Confuso? Patético? Olhei para o lado e mesmo assim existia inexistência, também não ando na Universidade, logo numa tabela perfaz…

domingo, 3 de outubro de 2010

Uma Estrada Chamada Solidão

           Sigo por esta estrada fora, já se desenlaça nela três dias deste mês de transição, está desgastada pelos anos que por aqui têm passado, pelas pessoas que singularmente aqui passam, pelo desespero de serem sempre os mesmos aqui a passar, parece tão velha como a sensação mais ambicionada do Mundo, parece difícil de a percorrer, é difícil encontrar alguém, mesmo sabendo que por aqui passa tanta gente, são gotas de tempo que vão caindo como as pedras que lanço por entre o caminho, para além do frio que aqui se faz sentir, há também o cansaço que se apodera da nossa cabeça.
           Encontrei dois homens descansando, é tão raro encontrar aqui alguém, sem querer ouvi o que diziam, o mais eloquente palreava sobre deslumbres, enquanto o mais ponderado sábio dizia que ele deveria amar as qualidades dela, não o seu dinheiro; continuei o meu caminho em pensamentos, mas aquelas palavras pareciam-me demasiado sinceras para serem ignoradas, aquele sábio parecia tão céptico, mas afinal é um apaixonado, um sonhador, para ele o poder era supérfluo aos olhos do amor, apesar de saber que as mulheres gostam de poder, os homens gostam de poder, ele próprio, mas para ele o único medo era aqui estar sem a menina dos seus olhos, ele encontrou o seu rumo e está feliz, apesar de estar aqui, mas deve ser só às vezes; resto eu, um simples ouvinte de histórias, um dia pode ser que tenha algo para acrescentar à minha.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mendigo

O luar já alcança no alcatrão a sombra do meu ser,
Passam despercebidos fumadores de rasgados sorrisos
Entrelaçados em calças tão sujas e rasgadas como as minhas,
Deles apenas o cabelo desgovernado se equipara comigo,
Olharam para o moribundo estatelado no caos de uma calçada,
Aqui nesta cama de solidão misturada com vidros verdes e castanhos
Estou eu cansado, dorido, envergonhado, cortado; vejo o meu orgulho desbotado no chão.
Não peço dinheiro ou comida, peço algo mais, peço apenas sonhos,
Mendigo esperança, tento percorrer estas ruas até à inexistência,
Mas hoje, mais uma vez, lembrei-me nesta noite fria o motivo pelo qual estou nesta situação,
Lembro-me que tu nunca me disseste obrigado ou desculpa, errar para ti não era opção;
E lembro-me ainda, vagamente, de pessoas, talvez amigos, perdi as suas identidades,
Mas lembro-me dos seus rostos, dos momentos pelo qual passamos juntos;
Tento apagar a minha imagem dos poucos corações que ainda sabem quem sou,
Na vida existe momentos em que é preciso nos esquecermos que temos passado,
O sol, a chuva, o vento, a sombra, sobretudo a que de mim sai, já é castigo suficiente.
Paro de pensar, baixo a cabeça ao passar um grupo mais agitado,
Sinto o seu desprezo, como o das pessoas que me viraram as costas quando parti,
Não passo de mais um mendigo, um desperdício de sociedade rendido à mediocridade de viver,
Ninguém sobrevive de sonhos, mas também ninguém vive sem eles. E eu perdi os meus,
Perdi o teu olhar neles, pelo meu imaginário há vazio, faz tanto frio neste esquecimento,
E por isso mendigo sonhos, na esperança de te voltar a encontrar
Pela razão mais egoísta de todo o Mundo, a minha Felicidade.
Se ainda houver luz nesse coração apagado, nessa ilusão de correspondência,
Nessa casa onde nunca fui dono, nem convidado, fui apenas um nome que apareceu,
Desculpa, acima de tudo, por ter desistido, por ter deixado de saber sonhar,
Por ter deixado de sorrir, de acreditar em ti, em nós, o teu Mundo fez-me o mesmo.
Juntei no céu com o olhar as estrelas que via, desenhei com elas um homem melhor, um homem como eu nunca consegui ser,
Se estivesses aqui, de certeza que ias gostar.

domingo, 19 de setembro de 2010

Concerto

               A noite estava fria, assim como tu! Podia ser assim que definiria esta noite, mas nem te vi, a noite aqueceu um pouco, o concerto estava cheio, planos falhados assumiram o mote e levaram à tentativa de contornar a situação, até dancei para esquecer a minha figura, a noite valeu a pena por estar com os amigos, por rever antigos amigos, para ver amigas virtuais, nem as cumprimentei, mais uma vez fui um cão, podia-lhes ter dito pelo menos um olá, mas como sempre fui ridículo, um cobarde com medo de uma recepção menos inóspita, mas mesmo assim contente por ver que estão bem, pelo menos aparentam. Nesta multidão muito receptiva ao Cid vi que ainda pode haver momentos e pessoas felizes, como pano de fundo havia Alenquer e no horizonte um mar de pessoas entoando o seu espólio, tanta felicidade, mas tu nem apareces-te, a vida continua questionável, a minha educação em degradação, a minha figura escasseia em tanta beleza que aqui está, mas fica o grande concerto do Cid.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Desequilíbrio Emocional

           Cabelos oblíquos e extraviados na displicência do murmúrio em que o vento se faz sentir, aqui me encontro neste lugar improvável, com pessoas improváveis, falando em caminhos que tomamos, em esperanças que perdemos, em sonhos que nunca passaram disso, em pessoas que nos desiludiram, falta-me estar alterado como eles, para também desabafar, para falar de ti, para falar dos meus medos, das minhas tristezas, para falar da menina esplêndida que me arrepia o coração quando passa, com tantos pretextos e hipóteses para conhecer, nem coragem tenho para lhe dizer olá. Constato que estou desfalecido como o meu ego, como o meu corpo, como a minha alma, um todo resumido em nada; perco algumas capacidades, mas sobretudo a imaginação para suprimir a realidade.
           Posso parecer mal, estar mal, não sou o único, hoje vi alguém que trespassa sempre uma imagem forte, confiante, rebelde, mas bastou algum álcool e a sua tristeza para mostrar que é humano (como devíamos de ser todos), ele não é fraco, apenas está vulnerável, amargurado pelos erros que cometeu e que cometeram por ele, vi naquela figura desfigurada a pessoa que um dia conheci, simples e preocupado com os seus amigos, mas sobretudo com a sua família. Tenho necessidade de me ir embora, não de os abandonar, porque sei que são fortes o suficiente para amanhã já estar tudo bem, se calhar já nem se lembraram que estive lá, mas vou para não me sentir humano, para não expelir todo o meu desassossego, sigo para a minha desordem, escrevo sem nexo, acabo num texto tão parecido como a minha vida, adormeço nestas palavras sem sentido e volto a ser feliz.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Festa de Verão

                É na iminência que tudo cede, o fim foi apenas uma questão de cumprimento moral, para o ano há mais, espero que seja melhor, a inexistência de incomportáveis como eu fez-me parecer deslocadamente vazio, olhos passavam, nem sei se me viam, olhos fugiam, evitando o confronto com os meus, apenas restava a recordação de anos melhores. Vi línguas afiadas contra o esforço, vi pessoas caminhando em direcção ao abismo, vi a degradação do sonho, parei no meio desta festa e pensei que poderia mudar esta situação, mas não o fiz, refugiei-me em casa, fugi com medo de ser consumido pela insignificância, de errar mais uma vez, por não ter a mesma coragem, a mesma ganância pela bebida, a mesma apetência pela dança, até a mesma alegria, acho esta civilização festiva uma pouco desenquadrada de mim ou eu dela.

sábado, 28 de agosto de 2010

Café Esquecido em Mim

           Nada em mim tem encanto! Confirmo isto ao segundo café que tomo nesta mesa de café onde observo mulheres bonitas descompensadas em tecidos, algumas com calças geometricamente rasgadas para dar um ar mais rebelde, usando argolas de pirata que baloiçam ao sabor de cabelos vastos e oblíquos, pessoas que escondem a sua alma em óculos escuros de várias cores e feitios, mulheres de cores aguerridas, deslumbrantes, impressionantes, semelhantes. Em todas elas existe bastante em comum, às vezes até demais. Todo este Mundo de impressionismo deixou-me arrebatado, vi no meu desejo a fraqueza, o desespero de errar, senti-me vazio naquela sala de luzes loucas. Penso e volto a pensar, observo, hesito, perco o meu brilho, como se ainda o tivesse, talvez ainda ganho uma certeza, fazias cá falta, volta depressa. Cheguei triste e triste voltei, desfiguro-me ainda mais para adormecer, para pensar numa felicidade, para recordar e quem sabe para esquecer, tudo o que é bom, um dia magoa-nos.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um Dia...

Hoje não tenhos linhas, nem palavras suficientes, hoje sou apenas um livro em branco, desfigurado, frágil, hoje sou apenas aquilo que fizerem de mim, hoje sou apenas um mero passo da consciência, amanhã poderei não ser nada, mas com a certeza de que hoje tiveram mais uma hipótese de me verem sorrir, apesar de para muitos só espiritualmente ou virtualmente, mas intenção pode ser um simples gesto de amor, quem sabe o politicamente correcto e não um apenas adeus.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Preparativos

            É peculiar toda esta paisagem de adereços instáveis! Vejo-me aqui há anos, nas manhãs o sol traz um calor castigador e na noite sopra no vento voraz um frio inexplicável para esta altura. Aqui estou eu em mais uns preparativos, é desmotivante, sinto-me mentalizado, mas inconformado, tentado, mas conformado ao fracasso destes preparativos, que em tantos anos nunca resultaram. Nestes dias sinto-me uma mescla, desequilibrado entre o estar contente ou triste, sinto o esforço, apesar de tímido e apenas de alguns, desperdiçado em mim e nestes preparativos, sinto-me um falhado, não aproveito o tempo que vocês me concedem, tempo do tempo que não pára, apenas que nos leva, que nos modifica, que rapidamente por aqui passa, que rapidamente se esquece de mim que já cá estava o ano passado, que nos castiga durante a sua viagem e que faz escassear na sua velocidade o que de si mesmo é necessário para estes preparativos. Era bom acordar e ser surpreendido, tentarem.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dardos

As horas são poucas, mas o dia já começa a chegar,
Trago ainda em mim o cheiro daquela bebida
Que me acompanha e ajuda-me a ganhar
Neste jogo que se chama Vida.

Sinto o vosso desprezo como um dardo envenenado,
Alguns amigos são uma pura desilusão
Que não vêem com bom agrado
Um falhanço provocado pelo nosso coração.

Vejo tantos alvos se moverem em diferentes direcções,
Com a ânsia de não falhar
Fico estático ao ver esses belos corações,
Que leva à decadência de cada dardo até não conseguir acertar.

Tento abandonar esta sala de jogo manipulado,
Já não a suporto, vejo aqui todos os meus sonhos
Desfeitos em mais um dardo falhado,
Perdidos na escassez dos pontos.

Deixo os dardos caírem da minha mão,
Estou intratável, preciso de não sufocar,
Aqui continua o mesmo alvo sem ambição,
Aqui estou eu pronto para outro jogo começar.

Paro, tento respirar, vejo pessoas em movimento,
Era assim que eu deveria sempre as conseguir ver,
Deixar para trás esta visão, limpar o pensamento
De tantos momentos, acreditar, recomeçar, talvez viver.

Quero deixar de ser um jogador,
Gostava de reconstruir todos os meus alvos,
Procurar a minha idade no alvo com muito amor
Para me lembrar que ainda estou vivo, mesmo sem os dardos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ondas de Incerteza

           Errar é sinal de humanização, errar sistematicamente é displicência pela arte, não errar é uma mera ilusão do nosso ego. O silêncio apoderou-se das minhas mãos, a minha alma cessou no medo da solidão, por vezes ponho em causa tudo o que fiz, o que deixei por fazer, o que deveria ter feito, em tudo isto existe um toque crescente de vazio, em vão talvez o esforço de me ter tornado a pessoa que sou, quem sabe se perdi a oportunidade de não ser assim, são as dúvidas que nos assolam a vida, que nos tornam vulneráveis. A nossa alma até pode parecer morta, mas existe sempre uma chama que a pode reacender do seu adormecimento e trazer de volta o que o tempo insistiu em esquecer, quem sabe se um dia seremos apenas o melhor de nós mesmos.
           O calor abafa-me os pensamentos, indicio cansaço, tudo parece ridículo nestas linhas, tudo parece tão verdadeiro e ao mesmo tempo fantasioso, errado, viver é como uma equação, nem todos a resolvem-na à primeira. O fracasso não é um resultado, mas pode ser um desvio demorado na solução. O vento tenta-me adormecer na sua inquietude e talvez consiga, é sempre bom adormecer ao pé de algo revoltado com o falsamente perfeito, fecho os olhos e desapareço sem uma resposta, nesta dimensão existe outro eu.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vazio Espelhado

           O vento abrupto que ferozmente navega por entre a paisagem esperançosa mostra-me que estou a perder o melhor que há na vida, a juventude. Tenho um desassossego dentro de mim, é evidente, sofrível, as palavras perdem a força, o calor tira tudo o que há de bom, enfraquece-as, torna-as ilegíveis, silenciosas, sobretudo as mais ternas. Sinto-me desiludido comigo mesmo, incompreendido, deslocado, excluído, raivoso, um triste. Caminho nesta estrada de uma direcção, faço-a sem um motivo, apenas ando por aqui destilando esquecimentos, enxovalhando-me na minha fraqueza. Tento fugir de todas as maneiras, talvez criando uma alegria inesgotável, mas acabo sempre preso no mesmo sítio. A minha destreza é insuficiente neste mar de contradições, tento reinventar os meus sonhos para destruir a minha imagem real. Não tenho vida própria, é uma vida apropriada e isso faz-me sentir reles, ridículo em tudo o que sei, incapacitado, conformado. Apetece-me desaparecer.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Incompreensível

           Como se pode combater contra uma pessoa de que se gosta? Estou cansado! Deito-me numa casa suplantada pela estrada, oiço o vento irrequieto agitando a paisagem, o calor deu-nos tréguas, sinto o Mundo a se desvanecer por entre a hipocrisia que ele criou. Vejo magia no fim-de-semana, de semana só penso no fim dela, mas na verdade o risco até agora não passou de umas noites carregadas de alegria e sonhos, sonhos que se dissipam em mais uma noite. Deixei-te de ver. Pingo atrás de pingo antecipa uma chuva certa apesar de fraca, mas simples, como eu, que sou apenas um nome, mais um nome, um desconhecido nome; deambulo por entre desconhecidos e nomes que me acenam timidamente, tento-te encontrar, em vão. Sento-me na calçada molhada, não me faz diferença a sua frieza, todas as minhas ambições, a imagem do teu rosto, as minhas inquietações caiem como esta chuva que brinda o meu corpo e me castiga o rosto, tento adormecer aqui, perdido, abandonado, já não sinto mais aquela ansiedade, afinal o teu olhar desapareceu, sinto-me despercebido. Passam pessoas por mim neste desassossego e por fim adormeço já em casa na esperança de que amanhã já te vou encontrar. Tenho saudades! Como é que se atinge a felicidade? Às vezes precisava, nem que fosse, de uma palavra.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Pianista

           Piano, capaz de tornar o abstracto em simples, de decifrar qualquer alma, cantor solitário que chora o seu destino em ambientes díspares numa cadência amortizada pelo luar denso, em suma, um triste, um amigo. Chamavam-me Yacob, como se alguma vez me tivessem conhecido! Nessa altura ainda tinha o Mundo como palco, apenas eu e tu o dominávamos, agora só nos resta o luar, porque o calor nos torna vulneráveis ao fracasso, mesmo assim é nele que desabafo todas as minhas frustrações com a tua ajuda, é nele que retoco o silêncio e afino a indiferença em cada nota, tudo se resumiu a esta sala onde descansas e a ti. Perdi a minha vida por ti, não te condeno, pois sem ti nem saberia estar neste silêncio que o calor atrai e que a chuva encanta. Toco e retoco peças sem fim, culminando vários objectos num, o pianista. Hoje não sou mais um objecto, nem um pianista, sou apenas um reles homem de roupas rasgadas que toca num piano desafinado, sem alma nem dinheiro para voltar a ouvir o seu piano como dantes.
          Yacob um dia morreu, o seu piano foi despejado na escuridão e morreu também no dia em que o seu pianista deixou de o amar, deixou-o morrer, morrendo sem um pedido de desculpas, acabaram zangados pela incapacidade de compreenderem o Mundo, em especial o de cada um.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Pirâmide

Ficou suspensa no horizonte a chuva quente
Que andava perdida num qualquer coração,
Que suspira por quem o torna eloquente
Nestas tardes abrasivas de Verão.

As horas não passam de tempo,
Um tempo interminável pela tua presença,
Que chega a desesperar por ser tanto tempo,
Para tão pouco naquele que nos une na indiferença.

Talvez os olhares nada queriam dizer,
Quem sabe se nem seriam para mim,
Mas esta esperança, apesar de sem força para viver
Ocupa-me a alma e a tristeza que por vezes tenho em mim.

Faz-me sentir vivo, com coração,
Pronto acreditar ou até mesmo a amar
Quem me tem prestado um pouco da sua atenção
Naquele frio reduto que costuma estar a abarrotar.

Não vejo em mim nada capaz de o fazer,
Sou simples e simplesmente desinteressante,
Talvez complicado de compreender
A loucura que me torna interessante.
(Momento de Modéstia)

É nesta pirâmide que balança de contradições
Que tento viver, reinventar
Uma Vida esquecendo as desilusões
Para ser feliz, para poder sonhar, para amar.

Foi assim que hoje me senti, com saudades de te ver,
De imaginar o impossível, de olhos abertos para poder acreditar
Em ti ao meu lado, pronta e disposta a vencer
A barreira que inventei para ocupar o meu lugar.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Delinear de um Convalescente

            Sonhar é acreditar, é transcender-nos para outra dimensão, é a felicidade no seu estado mais puro que nos torna capazes de ser alguém. Sonhar é sentirmo-nos bem mesmo quando estamos mal. Vence e serás um alvo, perde e serás um esquecido. Portugal é um país de esquecidos, não que tenham sempre perdido, mas um país mais dado à cultura de outros povos em detrimento da sua. Quando quebrar esta rotina ou quando eu partir neste desfalecimento, fico contente por saber que tanto os génios como os tristes têm o mesmo entusiasmo no fim da sua vida, a morte é dada apenas a uma cerimónia. E se nada de mim restar, que apenas fique na memória tudo o que é bom de sonhar.
           E se afinal tudo o que nos ensinaram estiver errado? Porquê, não é? Será que Vida é sonhar e viver só por si não passa de uma desilusão? Se calhar todos temos duas vidas e não sabemos! O amor é um caos, é uma mutação constante de enigmas, um espelho de verdades, algumas inconstantes que chegam a ser uma mentira. Amar pode ser a destruição do sonho, amar pode não ser amor, pode ser apenas uma obrigação. As aparências podem iludir, as opiniões podem ser dúbias, nada melhor do que utilizar a imaginação para conhecer a realidade, quem sabe se o que as separas não é apenas vazio, uma opinião errada, podemos viver a sonhar. Como? Acreditando, talvez!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Desânimo

Apodera-se da minha boca um triste silêncio,
Aliás em meu redor impera este intimidador silêncio
Que apenas se quebra com a chuva que me veio acompanhar,
Mas até ela parece desiludida,
Cansada, fulgurante e repentina na sua despedida
Dando lugar ao sol que nos tenta acariciar.

São destroços aquilo que vejo dentro de mim,
São estilhaços, fragmentos, páginas, linhas, palavras, silêncio,
Mais e apenas silêncio.

Às vezes viver é um desalento,
É um caos de interrogações,
Um labirinto de esperanças
Que só brilham quando estamos a sonhar.
A exaltação torna-se num vício,
A revolta incessante apodera-se do silêncio
E tudo o que poderia ser um sinónimo de vida
Torna-se uma antítese de viver,
Até amar (entre tudo ao específico) parece aborrecido.

Nem sempre consigo disfarçar a tristeza,
Mas também não adianta andar sem sorrir
De tudo, de mim,
Tento e treino uma felicidade,
Algo que me faça acreditar que estou vivo.
Tento reinventar um sorriso
Para não parecer tão mal, nem que seja
Para não estarem constantemente a perguntarem o que tenho,
Como senão o soubessem!

Desligo o coração, ligo apenas a cabeça,
Como se isso fosse possível?
Talvez fosse bom!
Porque por vezes acreditar
É dar mais uma oportunidade para nos magoarem.

sábado, 5 de junho de 2010

Interlúdio

           A minha cabeça parece uma pista de aterragem, eloquente neste desassossego. Perdi a vivacidade nos movimentos de que já fui mais do que um simples ignorante. Tudo, por vezes, parece fácil, feliz; rotina arriscada para delinear o caminho. As sombras da noite parecem densas o suficiente para me encobrirem, a ausência não escasseia no relógio. E por vezes me canso de alguns loops de alguém que nem conhecem, há sempre umas pernas roxas ou modernamente pretas para fazerem uma ponte nisto tudo. Palavras quebradas de sentido, nem tudo tem que ter uma explicação, apenas existe a necessidade de normalidade. Momentaneamente saciado. Apetece-me dormir, sonhar realidades, outras; aproveitar este vento, esquecer que a raiva é momentânea e que a tristeza é imortal; apago a televisão no fim do V de Vingança e tento acordar esperançado que sempre ao cair me levantarei assim. Foi bom reencontrar-te, tive saudades. Tenho saudades vossas. A música começou por se tornar a maior magia do Mundo, simples e capaz de unificar qualquer sentimento, qualquer pessoa, qualquer lugar numa simples e harmoniosa razão, viver!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dia da Criança


  
          Sinto-me ridículo por acreditar que sou forte, capaz de viver a vida sem olhar para trás, não passando de um fraco, amor, carinho, afecto. Deixo o Mundo à conquista para quem o quiser fazer. Gelei! Caía do telhado um caminho de água disperso, revia-me nele, cada pingo que batia estrondosamente no chão parecia um dia da minha vida, um dia secará e acabarei por morrer, o Mundo seguirá o seu destino e tudo não passará de paisagens temporais. Sinto-me fraco desde o dia em que nos perdemos, fraco ao ponto de ser manipulado por sentimentos bonitos, fraco por tê-los tornado em sentimentos esquecidos, fraco por ter vontade de chorar, fraco por me sentir sempre fraco.
           Tento reinventar a felicidade nesta felicidade toda e sentir que tudo não passa de nada, aliás tudo se transforma em nada, deixo este tudo de nada se apoderar de mim mesmo. Fico ausente para continuar a lutar contra este sentimento que tende em resumir tudo à inexistência. Até podia ter começado com um “Foi há um ano que te perdi”, mas até para isso me sinto fraco, por estar sempre a constatar a minha derrota, talvez também a tua.

domingo, 23 de maio de 2010

(Re)Iniciar

       Neste últimos dias a temperatura tem aumentado progressivamente, puxando um vento quente como um acender de um cigarro que aquece incessantemente ao queimar o seu destino. Revejo a vida com a nostalgia de um filme inacabado, de algo que espera uma continuação para avançar no tempo que me tem mantido refém, em busca de uma felicidade profética. Deixei as linhas morrerem nas minhas mãos, as palavras secaram-se-me na boca, o passado tem dias que me consome, que me torna vazio, escrevo páginas e páginas mentalmente para utilizar no dia do nosso reencontro, mas tudo parece-me ao mesmo tempo tão falível, tão inutilmente necessário, então deixo-me guiar pela espontaneidade, tem sido assim que tenho conseguido recuperar algumas distâncias.
       Saio um pouco desta rotina consumista, sento-me aqui neste harém de deusas semi-nuas que esbatem um pouco da minha tristeza ocular, passam silenciosas e passa também por mim tudo o que nos aconteceu, na minha cabeça oiço uma voz cava embargada em absinto a declamar os versos da Tabacaria; tal como tu, conheceste-me por quem não era, assumo, fui obsessivamente ridículo e ajudei a separar os nossos corações por uma cortina sem voz, mesmo sabendo que nunca irás ler estas palavras, espero que um dia possas quebrar o silêncio que nos afastou. Não escrevo para mostrar que sou sublime, na verdade também não o sou, apenas desabafo o meu arrependimento e procuro alicerçar o meu caminho, gostava que um dia fosse recordado como o passadiço da reconciliação e tento reconstituir todo o sentimento que existiu entre nós, ainda procuro enterrar na década que morreu a morte de quem não gostava de ser, ajudas-me?

domingo, 16 de maio de 2010

Delírios na Feira

Os amigos são como as cartas,
Espontâneos e ao mesmo tempo intemporais,
Escrevem-se com o selo de para sempre nas suas linhas
E com a enternecida intenção de serem imortais.

Já não consigo manter todas as cartas,
Tento-me agarrar aos estilhaços que pairam pelo chão,
Para me sentir vivo e recordar todas as vitórias
Antes de voltar à derrota e mergulhar na escuridão.

E se ao mesmo tempo houve amigos que não apareceram,
Confesso, tenho saudades de os rever,
Já outros que cá estiveram
Pareceram desinteressados ao me ver.

Também há amigos que são como cartas rasgadas,
Que um dia nos juntamos para o Mundo vencer
E noutro já não estavam para me ver perder.
Amigos! Se são amigos que se pode chamar a essas pessoas.

Hoje não quero me lembrar de tristezas,
Sinto-me contente por rever tantos manuscritos esquecidos
E ainda mais por ter voltado a reler tantas cartas esquecidas,
Aí senti-me grande outra vez no meu Mundo de despercebidos.

Mais um, outro e outro e revejo mais um antigo amigo,
Traz ao peito o desejo de querer é porcas.
E outro que traz um lenço consigo
Na boca, ao estilo dos ladrões, de facto tenho um diversificado espólio de cartas!

Não somos os únicos!
Vejo aqui na Feira da Ascensão pessoas tão desigualmente desiguais,
Que têm dificuldade em se movimentar de igual com a multidão.
Já outras parecem tão perfeitamente iguais
À minha cansada vista, que sente dificuldade em as distinguir
E em perceber se em cada uma existe um coração,
Fotocopiado, com a capacidade para mais um sorriso fingir.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Esgotando a Linha Final

           Diz-se que é nestas alturas que se escrevem bons textos, não é esse o meu objectivo, nem foi isso que me trouxe aqui, aliás este texto não é para ser ouvido, mas para eu desabafar sobre este amontoado de sentimentos. Sinto-me nada, um desvio numa estrada secundária onde ninguém passa, uma tempestade de areia no deserto, sinto-me esquecido dentro de mim mesmo, perdi o meu sorrir num coração qualquer, talvez não faça mal andar sem sorrir? E saber que um desses corações se chateou comigo sabendo que eu tinha razão, preferiu enxovalhar-me, mesmo sabendo que essa pessoa não me vai pedir desculpas, eu vou ter que a perdoar. Estou magoado, revoltado, podia invocar o mais prodigioso poeta, reencarnado em Álvaro de Campos, para exteriorizar em palavras toda a minha amargura, mas não, sinto-me egoísta ao ponto de preferir continuar sozinho esta sucessão de palavras indignadas.
            Perdoei-te, não me senti melhor, senti-me mais aliviado, o problema é que pressinto que estas divergências a qualquer momento estão de volta e faz-me sentir mais fraco ainda, incapaz de ser frio quando assim tem de ser, incapaz de acreditar nesta felicidade que me querem incutir. Hoje nada me demoveu deste rancor por tudo, apetecia-me beber copos de absinto enquanto jogava à roleta russa para me esquecer que sou um triste, um coitado, um tolerado. Pareço um cão, que só leva pontapés. Este caminho não está certo.

domingo, 9 de maio de 2010

Enigma

O amor é um enigma!
Quando o silêncio se apodera da voz,
Quando as teclas deixam de ter força para falar,
Quando a memória se torna imperceptível,
Tudo se resume a momentos,
Bons ou maus, depende da perspectiva.

E quando aqui me sento nesta enorme sala
De cinema multifuncional, chamada Vida,
Onde dissipo tudo o que já daqui vi sentado,
Lembro-me sobretudo de pessoas e talvez algumas situações
Que me transpuseram, mas que hoje pensei nelas por me ter sentido um mero figurante na minha própria história,
(Mesmo não sendo o dono dela)
Fui escrevendo as palavras que o meu coração ia ditando,
São abstractas, não fazem sentido.

Tenho o pior sentimento por ti, estou ressentido,
Memorizo as palavras que o tempo tem feito escassear
Por entre o vento que passa sem se lembrar
Que a minha auto-estima morreu, mas fez-me desabafar:

Foram curtos, mas inesquecíveis
Os dias da nossa reconciliação,
Mas provoquei danos irreversíveis
No teu bonito coração.

Acabei por te desiludir,
O teu silêncio consegue o comprovar,
Mesmo quando tu me tentas iludir
Com convites que acabam por me maltratar.

Não sei se consigo durar tantos anos
Sem te ver, beijar ou até mesmo sem te abraçar,
Gostava de desfazer os enganos
Que nos voltaram a separar.

(Sempre foste um enigma!)
Foi nesta melancolia que começa a chover ferozmente,
É bom porque a sua frieza acalma o meu ardor,
É bom porque me faz esquecer tudo o que perdi,
É bom para me lembrar daquele verso que um dia te fiz:

Ela trazia no seu olhar a tristeza
De quem já nada espera da vida,
O amor era a sua maior fraqueza
Por se sentir inferior a qualquer sua conhecida.

(Nunca deixas-te de ser um enigma!)
Talvez nunca tenhas percebido!
Neste momento já nada aqui está ao pé de mim,
A não ser este mar de recordações
Que assumiram o tédio de uma rotina,
Já não me resta mais nada para falar neste episódico dia
E dizer que nem tudo o que parte se volta a colar
Faz-me sofrivelmente acreditar que também existe um fim
Em tudo o que já fez parte do que já fui.
Resta-me sentar e recordar tudo o que já não posso ter.

Futuro? Não arrisco, para não voltar a sofrer
E não alimento mais o sonho de o Mundo mudar.
Para ti e para tudo o que já perdi, apenas falta um Obrigado
Pelos bons momentos, por me terem feito sentir uma pessoa melhor
E deixar na minha obrigada despedida
Um verso que disponibiliza a vontade de perdoar:

Quando o ódio se for embora,
Saberás onde me encontrar
Para poderes desanuviar
Essa dor tão perturbadora.

(Tornaste-te num enigma!)
Deixei-me cair no chão, ninguém me veio ajudar,
Fingi-me morto para só poder recordar.
Já nada atenua o meu sofrimento
E não ter vontade de continuar faz-me perder na Vida mais um momento.
Voltou a chover na minha despedida,
Com todo o amor de quem já pertenceu à vossa Vida.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Esperança ou Loucura?

           Sento-me no “meu” auto, onde quem ainda comanda é a fita, usada e desgastada dos dois lados, lados que respiram a voz de uma geração, da minha; lanço-me à estrada ao som dos Guano Apes, galgo metros escuros por entre o vento que alastra a Natureza, que lhe dá ao mesmo tempo um palpitar perceptível que restringe o escuro espelho quente que reflecte no meu olhar. Começa a tocar a “Ouvi Dizer”, arrepiante como sempre, mas hoje deu-me vontade de cessar todas as guerras, de dar novamente o passo que quase sempre sou eu a dar, esqueci-me na voz do Manuel Cruz e do Victor Espadinha todos os motivos destas quezílias. Chega ao fim, muda de lado, ainda balbuciava a magistral parte final quando começou a “One Step Closer”, relembro-me de todas as histórias que sei de cor, hoje apetecia-me perdoar ou apenas esquecer, porque o silêncio dói, a indiferença dói, a mentira dói, o esquecimento magoa.
           Hoje podia voltar a ser tudo como era dantes! Cheguei ao destino suspenso numa nostalgia incrédula, não consegui ouvir Limp Bizkit, nem os Papa Roach, fica para outro dia, talvez para aquele dia em que este delírio vá buscar ao passado uma realidade esquecida.

sábado, 1 de maio de 2010

Blackout

            Sinto-me reles! Sujo, imundo, despercebido, desfalecido, ignorante, ao ponto de deixar o vento trespassar a minha coragem, levando a minha auto-estima, talvez ignorante por acreditar que a chuva pudesse lavar a minha esperança, nem apareceu, fui e manipulei, senti-me mais reles ainda, um bicho, só porque o que idealizei como um ritual consumado ainda não é uma realidade constante e aí quebrei as infinitas rotinas de que já fui dono, quem sabe se uma mera hipótese sem o oxigénio que me queriam tirar, mesmo assim senti-me esquecido por aqueles olhares bonitos, fui deixado, apercebi-me que amanhã podem cá estar, a manipulação foi ajudada por quem foi manipulado e certos olhos talvez não me tenham visto, outros olhares fazem tudo para não me verem, até sempre.
            Hoje sinto-me mal! Mau, raivoso, revoltado, triste, por ainda acreditar nos planos que delineei e por deixar a noite abafar os meus pensamentos, formulando palavras para aliviar a minha amargura. Hoje senti-me indesejado, cansado desta luta, perdido. Hoje…blackout_
            (Lentamente fiquei suspenso noutra dimensão).

domingo, 25 de abril de 2010

Caminhando pelas Memórias

           Hoje podia ser a dissipação da monotonia, mas tudo não passou de uma projecção infundada e assim tudo se resumiu a um vazio de palavras destiladas. Olho em meu redor e tudo parece tão simples, a felicidade parece palpável, tudo se consome em sorrisos e palavras soníferas; as lágrimas que me caiem no chão como petardos, são estrondosos estilhaços que trespassam esta barreira harmoniosamente feliz, só porque não fazemos parte do mesmo papel em que estes felizardos foram fotocopiados, não passámos a mero lixo do seu alter-ego.
          Projecções falhadas, caminhos intempestivos onde a luz me dificulta o adormecer, expectativas derramadas sobre o esquecimento. A cidade maquilha-se, dá um toque à noite que contrasta comigo, apenas para me dizer:
          - Se um dia perderes progressivamente alguém no teu coração, não tenhas medo, ela não morreu em ti, apenas terás de aprender a ignora-la até ao dia em que ela reconhecer a tua existência com uma necessidade.

sábado, 24 de abril de 2010

Tu Disseste

Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."

Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

quarta-feira, 21 de abril de 2010

As Cartas Que Nunca Te Escrevi

Caiem mortas no chão
As cartas que um dia te escrevi,
Eram cegas, surdas e mudas
Aquelas palavras que sumiram
No teu esquecido coração.
Já não me lembro o que escrevi
Naqueles momentos que me consumiram
A realidade que eu fingia não sentir
Só para te ver mais uma vez sorrir,
Era isso que importava, era isso que ainda hoje quero,
Mas deixei de conhecer quem espero
E perdi tudo o que um dia te escrevi
Ou fiz, não interessa,
Acontecimentos passaram a meras perguntas
E as cartas que um dia te escrevi,
Que nunca passaram de desconhecidas,
Para ti, circunstâncias das nossas vidas
Que morreram no dia em que perdi
As cartas que nunca te escrevi.

sábado, 17 de abril de 2010

Tempo

           O tempo não foi só feito para nos propagar por espaços indefinidos, às vezes também merece ser utilizado, perder-se nele observando o Mundo. Esta noite o céu está abismal, está estrategicamente pintado de estrelas d’alva, daquelas que nunca me vieram adormecer ao sabor de uma voz ténue, mas que continuam esbeltas e graciosas por abrilhantar um azul que dorme no céu sobre o olhar de quem passa maravilhado com a esplêndida noite que nos está a ser presenteada pelo tempo que passa. O sol, esse fingido caminhante intempestivo, dorme descansado no silêncio da noite, fechou os olhos na indiferença da escuridão, mas nisto começa a chorar, caiem pingos aleatórios, diagonais sobre o alcatrão, tornam-se agressivas estas lágrimas sem motivo aparente ao ponto de domar o tempo com tons melancólicos, dissipando toda uma atmosfera mística em algo megalómano. A noite perdia o seu encanto natural, as estrelas perderam-se na imensidão do céu e o tempo, essa constante da vida, trouxe um sol apático, daqueles que contam histórias, breves passagens aproveitadas pelo tempo para descansar no silêncio que agora chegou e que assim me deixou. Parei aqui num dia…

domingo, 4 de abril de 2010

Sociedade ao Sabor de um Café

              Lanço-me ao caminho, a noite está instável, não demorei muito a chegar ao destino, misturando gotas com brisas gélidas, entrei no Vila Baixa quando ainda escasseava a afluência, sento-me numa mesa, não demora a chegar um café quente misturado com um pouco de simpatia, mas ainda mal acabava de o saborear quando começou uma invasão de desconhecidos e conhecidos de vista e pessoais, é notável a quantidade de rostos bonitos, sobretudo desconhecidos, depositados em fragmentos de tecido, algumas são mesmo hinos à beleza, nota-se que foram concebidas em noites ou dias de grande inspiração, os meus parabéns.
             Já não restava mais o sabor do café em mim quando me apercebi que nenhuma daquelas deusas olhou para mim, aquele corrupio apropriou-se do Vila e deixou-me de fora, um nervosismo súbito abate-se sobre mim, sem demora puxo um cigarro esquecido ou perturbado, mas deixei de fumar, aliás nunca fiz deles um vício, os cigarros são apenas o espelho da alma e não me apeteceu fumar mais um cigarro cansado; ao som dos geográficos Jáfumega cresce dentro de mim outra vontade, a de pedir um copo de absinto para dar de beber à rejeição, mas a sucessão que iria iniciar a decepção, na sóbria manhã seguinte não apagaria aquele deslocamento que senti no Vila e chegaria à mesma conclusão, o Mundo é só para modelos e assimilares, o resto é lixo social. Levantei-me, paguei e voltei para onde sou mais um vizinho.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Miúdo

Foi num dia triste que conheci um miúdo,
Todo ele era aleatório,
Não era bonito, nem rico,
Mas tinha uma virtuosa qualidade,
Era feliz e tudo em seu redor
Sentia isso, era notório!
Este poema a ele lhe dedico,
Àquele contente miúdo
Que só queria como pano de fundo
Para a sua modesta vida
Um verdadeiro Mundo,
Que mesmo com o passar da idade
Não caísse numa enorme descida
Às profundezas da tristeza
Contra quem ele lutava com tanta clareza.
Hoje voltei a ver esse miúdo…
De aspecto físico estava igual,
Mas já não tinha o mesmo ar feliz,
A mesma alegria contagiante,
Aliás parecia velho e desinteressante,
Estava quase irreconhecível o miúdo
De quem tanto se disse e ainda se diz
Ser harmoniosamente desigual
A este versátil Mundo
Que nos embala num segundo
Para uma enorme tristeza.
Foi assim que eu o achei!
Só, somente só
De tudo o que o rodeia,
Mas sonhador com destreza
Numa realidade alheia
Que dizimou em pó
Toda a sua energia.
Hoje quando vi esse miúdo
Achei-o parecido com alguém,
Desumanizado miúdo
Que voltaria a encontrar
Quando me olhei ao espelho
E o vi a chorar.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mescla de Personalidades

           Que diabólico dia! Podia ser assim recordado, de extremos, embebido no tropicalismo, do desejado ao esquecido, paralelismos dúbios que me fazem acreditar numa escritora, uma amiga quer me dizia que qualquer pessoa é dispensável por uns raios de sol! Não me lembro o nome dessa prodigiosa escritora, tinha um rótulo de esquecimento bonito, um nome recto, mas uma barreira para a minha memória, decerto que não levaria a mal o meu esquecimento a nível pessoal, contudo não temos necessidade de ferir a sua genialidade, mas se para tudo existe um imenso infinito, porque é que não podemos ter vários nomes? Somos um todo, mas nem todos os dias somos capazes de ser iguais, como estes dias de mudanças climáticas repentinas, será que em cada um de nós existe um protótipo de evolução? Afinal os nomes são meras matrizes de socialidade e se em cada um existir uma parte diferente, capaz de ter um nome diferente, capaz de substituir o nosso nome, em caso de necessidade, para o nascimento de um ser melhor, com um novo nome, luminoso num Mundo esquecido. Há em mim uma necessidade de recriar a minha insatisfação. Chamava-se Daniela.

domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia

Hoje é Dia Mundial da Poesia,
É dia para muitos corações conseguirem escrever,
É neste dia que as linhas choram de alegria
Na recordação das palavras que irão morrer.

Uma panóplia de temas variados
Que muitos ou poucos ousam exprimir,
Desde amores desequilibrados
Até as banalidades que nos fazem sorrir.

Um dia destes não é para se desperdiçar,
O sol apareceu para aquecer o meu coração
E para me lembrar que a poesia faz descarregar
Todo o ódio disfarçado de falsa paixão.

Eu tive um dia de m....

sábado, 20 de março de 2010

Apontamentos no Caminho

               Hoje está um belo dia! Olho em meu redor e está tudo tão harmoniosamente composto, desde o céu que parece um algodão branco que consegue escassear a luz enquanto a chuva, que por agora se calou, mas mesmo assim deu um grande alento à arquitectura natural e transformou a estrada num espelho; passando pelas amendoeiras em flor, parece mesmo um manto de neve, artificial, Gilda deve estar muito orgulhosa do seu Ibn-Almundim. Realmente está mesmo um óptimo dia, em especial para me lembrar que perdi todas as minhas paixões, agora são meras lembranças; nisto o vento levanta-se, ao de leve, óptimo, é forte o suficiente para me enxugar a cara, para me secar a alma de toda a revolta. Em síntese, um belo dia para tantos sentimentos de raiva florirem, mas o que se pode fazer num dia assim, mesmo quando sei que a escuridão desabou sobre o teu recordar e o que era umas boas imagens diárias não passam agora de paisagens esquecidas? Pára tudo, a chuva voltou a acordar, não deixa de ser bom, aliás ainda bem porque assim serve de maquilhagem para o meu desassossego. Os passarinhos resguardam-se ao pé de mim, vieram-me reconfortar, talvez consigam pressentir o meu sentimento de esquecido por tudo o que já me foi imprescindível. Não importa, vai passar, como sempre tem que passar, para eu acreditar como tenho acreditado que há dias como hoje, espectaculares, por outra, que o predominante não seja o tédio.

terça-feira, 9 de março de 2010

Intencionalmente Déspotas

               O sol findou dias de intensa chuva, os meus olhos cerravam com tanta luminosidade, mas o frio gelava o meu coração e o vento abria a minha alma, um bom dia, podia até ser excepcional, mas tanta luz traz a verdade para tantos olhos, a minha imagem será sempre o meu cartão de apresentação, por sinal um mau cartão, que será sempre superior a qualquer outra minha qualidade, porque o meu extravagante corpo será sempre a primeira palavra da minha boca, mesmo fechada, a caracterização de uma pessoa. O mais engraçado, para além das mil lâminas que atingem a minha moral senão tiver o padrão da perfeição instituída pela déspota sociedade, sou considerado arrogante caso discorde com alguém, sobretudo se me for superior na escala, talvez seja um pouco, mas talvez seja mais um revoltado, um exaltado; quem sabe eu poderia nem precisar de nada disto para viver, mas para pessoas como eu, encorpados desproporcionais, o limite é o vazio, a inexistência, a extinção. Só nos resta a lamentação silenciosa.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Inglória Felicidade

                    Dói-me a alma! Hoje o sol apareceu para abrilhantar o cinzentismo que por aqui tem passado nestes dias, hoje até podia ser um bom dia, mas passou ao lado, as expectativas esfumaram-se por entre leve neblina e nem a luz que hoje veio, me demoveu desta inglória felicidade. Espero que logo à noite a minha autenticidade me venha buscar à cama, o único sítio onde ainda sou genuíno, pelo silêncio da noite, depois de lá ter depositado a desfragmentação de mim mesmo, assimilando a vida ao sonho, onde ainda vivo aparte da destruição da minha alma, do meu corpo, do meu nome, porque é aquilo que sempre fui, apenas um nome, do qual se desvanece no esquecimento e é substituído pela decepção.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Réplica

             A água cai abruptamente sobre os terrenos fustigados, que parecem o meu coração, estão instáveis, prontos a desmoronar, prontos a dissipar alguma dúvida que reste na sua estabilidade, aptos a desfragmentar a obra do seu criador. A vida continua, as pessoas já não olham para o lado, senão também poderia lá estar, ladeado, outrora, pela perfeição; assim como a chuva não deixa de cair, eu tive que imaginar o vazio, recriá-lo, em poucas palavras, vivê-lo. Tédio, solidão, desespero! Impressionante! Como em tão poucas palavras se pode resumir uma vida.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Delírios à Chuva

             Gosto de caminhar por entre as dúvidas quando a chuva quebra o equilíbrio entre o céu e a terra, trespassando tudo e tornando o caminho num mar gentil, que não se afasta de mim como tantas pessoas, ouvem-me. Os sons confundem-se, tudo está em constante mudança, na minha cabeça, em meu redor tudo parece tão sofrido, tudo aparenta uma triste felicidade. Os meus olhos entreabertos resvalam para a profundidade das poças, que são o sofrimento do meu caminho, esse sofrimento tornou-se um hábito, uma barreira insistente, algo que não nos deixa dormir, mas que nos faz sonhar. Poderia ser bom senão fosse um ciclo sem saída. A imensidão do vazio é arrepiante.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carnaval

                  Hoje escrevo sozinho, a minha inspiração foi à festa por mim, ele é que é dada a estados de calamidade pessoal. Nem sei bem como explicar estas festividades, para mim são apenas dias em que as pessoas usam máscaras sobrepostas a outras máscaras, para mim hoje o dia foi como eu, triste, desinteressante e amanhã será identicamente desmotivante e frio, é a sucessão de tantas manifestações aplicadas a nada. Parafraseando uma amiga: “…palavras em que os sentimentos são visíveis em cada verso, é gratificante. O pior, é aqueles que apenas lêem. Os que não sentem. Os que não querem sentir…”, para que isto não aconteça, resolvi não escrever sobre este festejo cultural. A inspiração há-de voltar, recarregada de novas esperanças, assim eu espero.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Malefícios de um Sofredor

Toda a raiva que me costumava consumir
Está a ficar incontrolável
E um dia vai acabar por destruir
Tudo o que em mim já foi memorável.

Desta vez atingiu proporções
Inimagináveis, até para mim.
Só queria que todos os corações
Não ligassem o meu nome a um fim.

Atingi quem nunca quis magoar,
De todo não o merecias,
Não te queria ver a chorar,
Mas quero voltar a dar-te muitas alegrias.

Desculpa! Eu sei que não resolve nada,
Evita-se, mas já é o reconhecimento do erro.
Também sei que estás destroçada
Por todos os erros que tenho cometido.

Tenho errado como pessoa e como amigo,
Sinto-me um reles ser desprezível,
Não sei o que se está a passar comigo,
Sei apenas que estou a ficar irreconhecível.
Sinto a falta do teu amor.

Eu sei que agi mal,
Não o precisavas de dizer,
Mas um dia este destino infernal
Vai levar-me a morrer.

Gradualmente, espero eu, vais conseguir-me perdoar,
Foi o que tu sempre tentaste fazer
E ainda é essa a esperança que me faz querer acordar
No meu desapontante e desalentado viver.
Merecerei eu outra oportunidade?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Resquícios de um Tormento

Quem sou eu? Não interessa, fiquemos por alguém
Que na penumbra da noite melancolicamente fria,
A inquietude de sua alma é exasperante
Quando se encontra no meio de uma multidão
Tudo parece tão simples, mais que simples,
É como se o azul fosse apenas azul
Ou como se um não fosse apenas a negação.
Então aí lembro-me de uma vida debutante
Onde te dei o meu desmotivado coração
E tu conseguiste-o desfragmentar.
Apenas pedia que fosses sincera comigo,
Podias dizer que me odeias a chorar
Ou transpondo toda a tua raiva para comigo num olhar,
Mas não que me matasses a sorrir,
Tecnicamente não demonstras-te,
Acho eu, porque sinceramente não te conheço,
Aliás nunca te conheci o suficientemente bem.
A única conclusão é que não me dou o suficiente contigo
Para afirmar que nos damos mal.
Morri, voltando a nascer, agora sou apenas ninguém.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Desvio de Personalidade

                Não te iludas, sou apenas um fingidor na minha desgraça, aquele que hoje não lhe apetece fingir mais um sorriso, sinto-me apenas triste e com vontade de exteriorizar toda a minha revolta, um infeliz em toda a alegria, sou apenas alguém, um desalentado de mim mesmo, aquele que tu nunca te lembres que conheces-te, para eu não me recordar que te esqueci. Sou um desconsolo de uma desilusão, um incompreendido, até de mim mesmo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Relíquias

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!"

                                                                              Florbela Espanca

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Abandono Emocional

            O céu enlouqueceu na acalmia que nele abundava, por entre os sorrisos cínicos algumas lágrimas foram emocionalmente derramadas pela alma incrédula, espelharam o terror do quotidiano pavoroso das pessoas. A Natureza está zangada com todos nós! A noite emergiu com destreza soterrando o meu coração na escuridão a que ele está habituado, a minha alma vai-se tornando pequena para a tristeza que nela habita. Emocionalmente desolado com o abandono e com a confirmação da minha importância, mas singelamente falando a desilusão é gratificante pelo esquecimento que um dia poderá ser reconhecimento. Fui extraditado de algumas vidas, sou um mero desertor da Vida, afinal não somos todos?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Parabéns!

Não preciso que chores por mim,
Nem quando eu morrer,
A nossa pseudo-relação chegará ao fim
E aí tu poderás continuar a esquecer.
Parabéns!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Palavra Perdidas num Coração IV

           A vida é como um livro, deve ser saboreada, se possível cativante para quem a desfolha diariamente, sem nunca revelar o seu fim antes de consumar todas as linhas perdidas pelo imaginário de quem já usufrui do conhecimento que nelas estão implícitas.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Sindroma da Paixão

Dei por mim à janela, parado,
Olhando para tudo sem nada ver,
Deve ser isto a que chamam estar apaixonado,
Vendo tudo sem te conseguir esquecer.

A tua alegria era contagiante,
Fazia-me esquecer os meus problemas,
Sobretudo quando de uma forma elegante
Tu amorosamente me falavas.

Tudo era bom, mas por vezes castigador
Quando havia um momento sem te ver.
Por ti aprendi a fazer versos de amor,
Daqueles que nunca imaginei conseguir escrever.

Foste tu, um dia, a cura
Da minha amarga solidão
E com toda a tua ternura
Abris-te o meu coração.

Foram passando grandes dias,
Eu ia desenhando na minha cabeça a perfeição
E tudo o que tu singelamente me pedias
Eu dava sem desconfiar da tua intenção.

Até ao dia em que tudo desabou,
Criou-se um caminho frio no chão,
Separou-nos e o nosso amor acabou.
Resta-me apenas ainda o sindroma da paixão.

E aí morri! Talvez? Para ti quero morrer,
Já não tenho nome, sou de mim mesmo uma encarnação
Que tenta a muito custo compreender
A razão pela qual morreu a nossa paixão.

Foda-se! Só queria ficar para sempre contigo,
Mas tu ainda foste capaz de me magoar
Quando fingiste ao dizer que nem era teu amigo.
Não imaginas como consegui nessa noite adormecer.

Esta nova luz no horizonte que vejo,
Um dia já me fez sorrir,
Mas é idêntica a quem um dia foi o meu desejo
E que por fim me consegui destruir.
Também tenho medo!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Poema do Menino Mau

Meio Alto, de olhos engraçados, com aspecto triste,
Era assim que ele no Mundo conseguia viver
Por entre a sombra e a luz
De quem vive ao sabor do início do amanhecer.

Foi numa manhã de Janeiro muito fria,
Onde a chuva melancólica calou-se para ver
A tristeza profunda que se abatia até nas casas
Quando ele passava no caminho a correr.

O dia banhou a luz do sol numa imensa escuridão
De quem já nada tem para dizer,
Mesmo assim as palavras vieram fazer companhia à sua solidão
De quem já pouco tem para escrever.

O amor que tinham para lhe dar,
Ele não o sabia entender,
Mesmo quando conseguia sonhar
Não o queria tentar mais entender.

Um dia pensou em voar
E caiu estrondosamente no chão,
Ainda não conseguiu recuperar
Da desilusão que nasceu no seu coração.

Talvez tenha medo de ser feliz?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Foi Há Um Ano Que Tudo Começou

A perfeição é uma ilusão de óptica provocada pelo coração,
Originada por algo que nos traga a plena ou parcial satisfação.

Grave, não é não ser convidado para as festas da família,
Grave, não é familiares meus não me procurarem durante anos,
Grave, já nem é sequer não se lembrarem do meu nome,
Grave é eu lembrar-me de isto tudo que deixou de ser grave.

Quando tentei criar uma vida nova,
Não distingui a realidade da ilusão,
Agora que sinto que não sei viver nela
Desisti de ser lembrado por aqueles que têm bom coração.

Nunca deveria ter saído de casa
Naquele fatídico dia
Em que deixei de ser recordado
Por quem alegremente me sorria.

Afinal o que sou? O que se passou?
O que poderia ser? O que queria ser?
Afinal nada aconteceu e ainda me mostrou
O que nunca conseguiria ou poderia ser.

Já nem a chuva disfarça as minhas lágrimas…
Porquê?
Grave, não é saber como isto está a acabar,
Grave, é ter deixado isto começar.

Faz hoje um ano que te beijei pela última vez.