sábado, 28 de agosto de 2010

Café Esquecido em Mim

           Nada em mim tem encanto! Confirmo isto ao segundo café que tomo nesta mesa de café onde observo mulheres bonitas descompensadas em tecidos, algumas com calças geometricamente rasgadas para dar um ar mais rebelde, usando argolas de pirata que baloiçam ao sabor de cabelos vastos e oblíquos, pessoas que escondem a sua alma em óculos escuros de várias cores e feitios, mulheres de cores aguerridas, deslumbrantes, impressionantes, semelhantes. Em todas elas existe bastante em comum, às vezes até demais. Todo este Mundo de impressionismo deixou-me arrebatado, vi no meu desejo a fraqueza, o desespero de errar, senti-me vazio naquela sala de luzes loucas. Penso e volto a pensar, observo, hesito, perco o meu brilho, como se ainda o tivesse, talvez ainda ganho uma certeza, fazias cá falta, volta depressa. Cheguei triste e triste voltei, desfiguro-me ainda mais para adormecer, para pensar numa felicidade, para recordar e quem sabe para esquecer, tudo o que é bom, um dia magoa-nos.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um Dia...

Hoje não tenhos linhas, nem palavras suficientes, hoje sou apenas um livro em branco, desfigurado, frágil, hoje sou apenas aquilo que fizerem de mim, hoje sou apenas um mero passo da consciência, amanhã poderei não ser nada, mas com a certeza de que hoje tiveram mais uma hipótese de me verem sorrir, apesar de para muitos só espiritualmente ou virtualmente, mas intenção pode ser um simples gesto de amor, quem sabe o politicamente correcto e não um apenas adeus.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Preparativos

            É peculiar toda esta paisagem de adereços instáveis! Vejo-me aqui há anos, nas manhãs o sol traz um calor castigador e na noite sopra no vento voraz um frio inexplicável para esta altura. Aqui estou eu em mais uns preparativos, é desmotivante, sinto-me mentalizado, mas inconformado, tentado, mas conformado ao fracasso destes preparativos, que em tantos anos nunca resultaram. Nestes dias sinto-me uma mescla, desequilibrado entre o estar contente ou triste, sinto o esforço, apesar de tímido e apenas de alguns, desperdiçado em mim e nestes preparativos, sinto-me um falhado, não aproveito o tempo que vocês me concedem, tempo do tempo que não pára, apenas que nos leva, que nos modifica, que rapidamente por aqui passa, que rapidamente se esquece de mim que já cá estava o ano passado, que nos castiga durante a sua viagem e que faz escassear na sua velocidade o que de si mesmo é necessário para estes preparativos. Era bom acordar e ser surpreendido, tentarem.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dardos

As horas são poucas, mas o dia já começa a chegar,
Trago ainda em mim o cheiro daquela bebida
Que me acompanha e ajuda-me a ganhar
Neste jogo que se chama Vida.

Sinto o vosso desprezo como um dardo envenenado,
Alguns amigos são uma pura desilusão
Que não vêem com bom agrado
Um falhanço provocado pelo nosso coração.

Vejo tantos alvos se moverem em diferentes direcções,
Com a ânsia de não falhar
Fico estático ao ver esses belos corações,
Que leva à decadência de cada dardo até não conseguir acertar.

Tento abandonar esta sala de jogo manipulado,
Já não a suporto, vejo aqui todos os meus sonhos
Desfeitos em mais um dardo falhado,
Perdidos na escassez dos pontos.

Deixo os dardos caírem da minha mão,
Estou intratável, preciso de não sufocar,
Aqui continua o mesmo alvo sem ambição,
Aqui estou eu pronto para outro jogo começar.

Paro, tento respirar, vejo pessoas em movimento,
Era assim que eu deveria sempre as conseguir ver,
Deixar para trás esta visão, limpar o pensamento
De tantos momentos, acreditar, recomeçar, talvez viver.

Quero deixar de ser um jogador,
Gostava de reconstruir todos os meus alvos,
Procurar a minha idade no alvo com muito amor
Para me lembrar que ainda estou vivo, mesmo sem os dardos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ondas de Incerteza

           Errar é sinal de humanização, errar sistematicamente é displicência pela arte, não errar é uma mera ilusão do nosso ego. O silêncio apoderou-se das minhas mãos, a minha alma cessou no medo da solidão, por vezes ponho em causa tudo o que fiz, o que deixei por fazer, o que deveria ter feito, em tudo isto existe um toque crescente de vazio, em vão talvez o esforço de me ter tornado a pessoa que sou, quem sabe se perdi a oportunidade de não ser assim, são as dúvidas que nos assolam a vida, que nos tornam vulneráveis. A nossa alma até pode parecer morta, mas existe sempre uma chama que a pode reacender do seu adormecimento e trazer de volta o que o tempo insistiu em esquecer, quem sabe se um dia seremos apenas o melhor de nós mesmos.
           O calor abafa-me os pensamentos, indicio cansaço, tudo parece ridículo nestas linhas, tudo parece tão verdadeiro e ao mesmo tempo fantasioso, errado, viver é como uma equação, nem todos a resolvem-na à primeira. O fracasso não é um resultado, mas pode ser um desvio demorado na solução. O vento tenta-me adormecer na sua inquietude e talvez consiga, é sempre bom adormecer ao pé de algo revoltado com o falsamente perfeito, fecho os olhos e desapareço sem uma resposta, nesta dimensão existe outro eu.