segunda-feira, 23 de maio de 2011

Três Irmãos

A janela está encravada,
Maldita casa que guarda uma nauseabunda escuridão
De perpétuas almas sedentas pelo desconhecido,
Almas que cresceram banidas da civilização
Num monte de terras densas com sonhos de nada,
Assoladas pela renitência dos que usavam um melhor tecido.

Eram três pobres irmãos,
Que um dia brindaram este Mundo de almas perdidas
De vaidade e viciadas na existência de algo irreal
A que muitos dedicavam a vida na concepção de algo real
Aos olhos dos outros, todos esses olhos juntos acharam que os três irmãos
Eram demasiado insignificantes para pertencerem às suas ridículas vidas.

Rudimentares sentimentos e displicentes actos vergonhosos
De tais gentes que se achavam fidalgos de uma era moderna,
Que descoravam as capacidades daqueles que não pertenciam aos seus padrões
Concebidos à sua imagem gasta e repetida por tantos outros ladrões,
Regras banais de etiqueta utilizadas em esquemas manhosos,
De manhã bebiam champanhe no hotel, a noite um copo de vinho cravado na taberna.

Pessoas hipócritas de bolsos vazios, passeando-se com dinheiro de plástico,
Dinheiro com menos valor que o do Monopoly com que os irmãos brincavam até à exaustão
E cultivavam a sua capacidade de assimilar o que um jogo pode ensinar.
Aqueles miúdos cresceram e tornaram-se algo maior do que o pensamento podia imaginar,
Tornaram-se eles próprios a criação, pobres coitados, tiveram um castigo muito drástico,
Tornaram-se homens que encadeavam palavras para servirem os outros de inspiração.

Afinal aqueles ignorados de nome desconhecido tinham um fim,
Utilizarem a sua peculiar sensibilidade para ajudarem a expressar quem não sabia falar
Dos seus sentimentos, mas também ninguém sabe! Foram rejeitados,
É triste saber que apesar daquele esforço eles nunca foram amados
Só porque não era de bom-tom juntarem-se a eles, eram pobres, e cá para mim
Suicidaram-se no mesmo dia por já não querem viver num lugar onde ninguém se quer amar.

Eles tinham uma visão muito invulgar entre a possibilidade e o sonho,
Acreditavam que todos nós tínhamos o mesmo direito à felicidade,
Sentiram-se traídos quando descobriram ser impossível
Espalhar amor por todos de igual, questionavam-se agora se existia algo possível
Neste Mundo onde há pessoas que magoam outras, onde o que é belo pode ser medonho,
Onde o Amor, por burrice ou por interferência, pode ser uma infelicidade.

A cidade adormeceu finalmente na sua infâmia, saudosa e desejável ignorância
Sem nunca mais recordar os três desgraçados pensadores,
Eles que ajudaram e ergueram uma cidade com uma enorme grandeza.
Ingratos! Hoje só resta uma pequena pedra em memória dos irmãos, e é preciso destreza
Para a encontrar no lugar mais recôndito da serra da Vigilância
Onde repousa as cinzas e a obra dos Homens que escreveram “Faria tudo pelos meus amores”