domingo, 9 de maio de 2010

Enigma

O amor é um enigma!
Quando o silêncio se apodera da voz,
Quando as teclas deixam de ter força para falar,
Quando a memória se torna imperceptível,
Tudo se resume a momentos,
Bons ou maus, depende da perspectiva.

E quando aqui me sento nesta enorme sala
De cinema multifuncional, chamada Vida,
Onde dissipo tudo o que já daqui vi sentado,
Lembro-me sobretudo de pessoas e talvez algumas situações
Que me transpuseram, mas que hoje pensei nelas por me ter sentido um mero figurante na minha própria história,
(Mesmo não sendo o dono dela)
Fui escrevendo as palavras que o meu coração ia ditando,
São abstractas, não fazem sentido.

Tenho o pior sentimento por ti, estou ressentido,
Memorizo as palavras que o tempo tem feito escassear
Por entre o vento que passa sem se lembrar
Que a minha auto-estima morreu, mas fez-me desabafar:

Foram curtos, mas inesquecíveis
Os dias da nossa reconciliação,
Mas provoquei danos irreversíveis
No teu bonito coração.

Acabei por te desiludir,
O teu silêncio consegue o comprovar,
Mesmo quando tu me tentas iludir
Com convites que acabam por me maltratar.

Não sei se consigo durar tantos anos
Sem te ver, beijar ou até mesmo sem te abraçar,
Gostava de desfazer os enganos
Que nos voltaram a separar.

(Sempre foste um enigma!)
Foi nesta melancolia que começa a chover ferozmente,
É bom porque a sua frieza acalma o meu ardor,
É bom porque me faz esquecer tudo o que perdi,
É bom para me lembrar daquele verso que um dia te fiz:

Ela trazia no seu olhar a tristeza
De quem já nada espera da vida,
O amor era a sua maior fraqueza
Por se sentir inferior a qualquer sua conhecida.

(Nunca deixas-te de ser um enigma!)
Talvez nunca tenhas percebido!
Neste momento já nada aqui está ao pé de mim,
A não ser este mar de recordações
Que assumiram o tédio de uma rotina,
Já não me resta mais nada para falar neste episódico dia
E dizer que nem tudo o que parte se volta a colar
Faz-me sofrivelmente acreditar que também existe um fim
Em tudo o que já fez parte do que já fui.
Resta-me sentar e recordar tudo o que já não posso ter.

Futuro? Não arrisco, para não voltar a sofrer
E não alimento mais o sonho de o Mundo mudar.
Para ti e para tudo o que já perdi, apenas falta um Obrigado
Pelos bons momentos, por me terem feito sentir uma pessoa melhor
E deixar na minha obrigada despedida
Um verso que disponibiliza a vontade de perdoar:

Quando o ódio se for embora,
Saberás onde me encontrar
Para poderes desanuviar
Essa dor tão perturbadora.

(Tornaste-te num enigma!)
Deixei-me cair no chão, ninguém me veio ajudar,
Fingi-me morto para só poder recordar.
Já nada atenua o meu sofrimento
E não ter vontade de continuar faz-me perder na Vida mais um momento.
Voltou a chover na minha despedida,
Com todo o amor de quem já pertenceu à vossa Vida.

1 comentário:

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Deixei-me cair no chão, ninguém me veio ajudar,
Fingi-me morto para só poder recordar.

Alvi Sarculho
Gosto de ler sua poesia.
Efigenia Coutinho
in New York