domingo, 23 de maio de 2010

(Re)Iniciar

       Neste últimos dias a temperatura tem aumentado progressivamente, puxando um vento quente como um acender de um cigarro que aquece incessantemente ao queimar o seu destino. Revejo a vida com a nostalgia de um filme inacabado, de algo que espera uma continuação para avançar no tempo que me tem mantido refém, em busca de uma felicidade profética. Deixei as linhas morrerem nas minhas mãos, as palavras secaram-se-me na boca, o passado tem dias que me consome, que me torna vazio, escrevo páginas e páginas mentalmente para utilizar no dia do nosso reencontro, mas tudo parece-me ao mesmo tempo tão falível, tão inutilmente necessário, então deixo-me guiar pela espontaneidade, tem sido assim que tenho conseguido recuperar algumas distâncias.
       Saio um pouco desta rotina consumista, sento-me aqui neste harém de deusas semi-nuas que esbatem um pouco da minha tristeza ocular, passam silenciosas e passa também por mim tudo o que nos aconteceu, na minha cabeça oiço uma voz cava embargada em absinto a declamar os versos da Tabacaria; tal como tu, conheceste-me por quem não era, assumo, fui obsessivamente ridículo e ajudei a separar os nossos corações por uma cortina sem voz, mesmo sabendo que nunca irás ler estas palavras, espero que um dia possas quebrar o silêncio que nos afastou. Não escrevo para mostrar que sou sublime, na verdade também não o sou, apenas desabafo o meu arrependimento e procuro alicerçar o meu caminho, gostava que um dia fosse recordado como o passadiço da reconciliação e tento reconstituir todo o sentimento que existiu entre nós, ainda procuro enterrar na década que morreu a morte de quem não gostava de ser, ajudas-me?

domingo, 16 de maio de 2010

Delírios na Feira

Os amigos são como as cartas,
Espontâneos e ao mesmo tempo intemporais,
Escrevem-se com o selo de para sempre nas suas linhas
E com a enternecida intenção de serem imortais.

Já não consigo manter todas as cartas,
Tento-me agarrar aos estilhaços que pairam pelo chão,
Para me sentir vivo e recordar todas as vitórias
Antes de voltar à derrota e mergulhar na escuridão.

E se ao mesmo tempo houve amigos que não apareceram,
Confesso, tenho saudades de os rever,
Já outros que cá estiveram
Pareceram desinteressados ao me ver.

Também há amigos que são como cartas rasgadas,
Que um dia nos juntamos para o Mundo vencer
E noutro já não estavam para me ver perder.
Amigos! Se são amigos que se pode chamar a essas pessoas.

Hoje não quero me lembrar de tristezas,
Sinto-me contente por rever tantos manuscritos esquecidos
E ainda mais por ter voltado a reler tantas cartas esquecidas,
Aí senti-me grande outra vez no meu Mundo de despercebidos.

Mais um, outro e outro e revejo mais um antigo amigo,
Traz ao peito o desejo de querer é porcas.
E outro que traz um lenço consigo
Na boca, ao estilo dos ladrões, de facto tenho um diversificado espólio de cartas!

Não somos os únicos!
Vejo aqui na Feira da Ascensão pessoas tão desigualmente desiguais,
Que têm dificuldade em se movimentar de igual com a multidão.
Já outras parecem tão perfeitamente iguais
À minha cansada vista, que sente dificuldade em as distinguir
E em perceber se em cada uma existe um coração,
Fotocopiado, com a capacidade para mais um sorriso fingir.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Esgotando a Linha Final

           Diz-se que é nestas alturas que se escrevem bons textos, não é esse o meu objectivo, nem foi isso que me trouxe aqui, aliás este texto não é para ser ouvido, mas para eu desabafar sobre este amontoado de sentimentos. Sinto-me nada, um desvio numa estrada secundária onde ninguém passa, uma tempestade de areia no deserto, sinto-me esquecido dentro de mim mesmo, perdi o meu sorrir num coração qualquer, talvez não faça mal andar sem sorrir? E saber que um desses corações se chateou comigo sabendo que eu tinha razão, preferiu enxovalhar-me, mesmo sabendo que essa pessoa não me vai pedir desculpas, eu vou ter que a perdoar. Estou magoado, revoltado, podia invocar o mais prodigioso poeta, reencarnado em Álvaro de Campos, para exteriorizar em palavras toda a minha amargura, mas não, sinto-me egoísta ao ponto de preferir continuar sozinho esta sucessão de palavras indignadas.
            Perdoei-te, não me senti melhor, senti-me mais aliviado, o problema é que pressinto que estas divergências a qualquer momento estão de volta e faz-me sentir mais fraco ainda, incapaz de ser frio quando assim tem de ser, incapaz de acreditar nesta felicidade que me querem incutir. Hoje nada me demoveu deste rancor por tudo, apetecia-me beber copos de absinto enquanto jogava à roleta russa para me esquecer que sou um triste, um coitado, um tolerado. Pareço um cão, que só leva pontapés. Este caminho não está certo.

domingo, 9 de maio de 2010

Enigma

O amor é um enigma!
Quando o silêncio se apodera da voz,
Quando as teclas deixam de ter força para falar,
Quando a memória se torna imperceptível,
Tudo se resume a momentos,
Bons ou maus, depende da perspectiva.

E quando aqui me sento nesta enorme sala
De cinema multifuncional, chamada Vida,
Onde dissipo tudo o que já daqui vi sentado,
Lembro-me sobretudo de pessoas e talvez algumas situações
Que me transpuseram, mas que hoje pensei nelas por me ter sentido um mero figurante na minha própria história,
(Mesmo não sendo o dono dela)
Fui escrevendo as palavras que o meu coração ia ditando,
São abstractas, não fazem sentido.

Tenho o pior sentimento por ti, estou ressentido,
Memorizo as palavras que o tempo tem feito escassear
Por entre o vento que passa sem se lembrar
Que a minha auto-estima morreu, mas fez-me desabafar:

Foram curtos, mas inesquecíveis
Os dias da nossa reconciliação,
Mas provoquei danos irreversíveis
No teu bonito coração.

Acabei por te desiludir,
O teu silêncio consegue o comprovar,
Mesmo quando tu me tentas iludir
Com convites que acabam por me maltratar.

Não sei se consigo durar tantos anos
Sem te ver, beijar ou até mesmo sem te abraçar,
Gostava de desfazer os enganos
Que nos voltaram a separar.

(Sempre foste um enigma!)
Foi nesta melancolia que começa a chover ferozmente,
É bom porque a sua frieza acalma o meu ardor,
É bom porque me faz esquecer tudo o que perdi,
É bom para me lembrar daquele verso que um dia te fiz:

Ela trazia no seu olhar a tristeza
De quem já nada espera da vida,
O amor era a sua maior fraqueza
Por se sentir inferior a qualquer sua conhecida.

(Nunca deixas-te de ser um enigma!)
Talvez nunca tenhas percebido!
Neste momento já nada aqui está ao pé de mim,
A não ser este mar de recordações
Que assumiram o tédio de uma rotina,
Já não me resta mais nada para falar neste episódico dia
E dizer que nem tudo o que parte se volta a colar
Faz-me sofrivelmente acreditar que também existe um fim
Em tudo o que já fez parte do que já fui.
Resta-me sentar e recordar tudo o que já não posso ter.

Futuro? Não arrisco, para não voltar a sofrer
E não alimento mais o sonho de o Mundo mudar.
Para ti e para tudo o que já perdi, apenas falta um Obrigado
Pelos bons momentos, por me terem feito sentir uma pessoa melhor
E deixar na minha obrigada despedida
Um verso que disponibiliza a vontade de perdoar:

Quando o ódio se for embora,
Saberás onde me encontrar
Para poderes desanuviar
Essa dor tão perturbadora.

(Tornaste-te num enigma!)
Deixei-me cair no chão, ninguém me veio ajudar,
Fingi-me morto para só poder recordar.
Já nada atenua o meu sofrimento
E não ter vontade de continuar faz-me perder na Vida mais um momento.
Voltou a chover na minha despedida,
Com todo o amor de quem já pertenceu à vossa Vida.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Esperança ou Loucura?

           Sento-me no “meu” auto, onde quem ainda comanda é a fita, usada e desgastada dos dois lados, lados que respiram a voz de uma geração, da minha; lanço-me à estrada ao som dos Guano Apes, galgo metros escuros por entre o vento que alastra a Natureza, que lhe dá ao mesmo tempo um palpitar perceptível que restringe o escuro espelho quente que reflecte no meu olhar. Começa a tocar a “Ouvi Dizer”, arrepiante como sempre, mas hoje deu-me vontade de cessar todas as guerras, de dar novamente o passo que quase sempre sou eu a dar, esqueci-me na voz do Manuel Cruz e do Victor Espadinha todos os motivos destas quezílias. Chega ao fim, muda de lado, ainda balbuciava a magistral parte final quando começou a “One Step Closer”, relembro-me de todas as histórias que sei de cor, hoje apetecia-me perdoar ou apenas esquecer, porque o silêncio dói, a indiferença dói, a mentira dói, o esquecimento magoa.
           Hoje podia voltar a ser tudo como era dantes! Cheguei ao destino suspenso numa nostalgia incrédula, não consegui ouvir Limp Bizkit, nem os Papa Roach, fica para outro dia, talvez para aquele dia em que este delírio vá buscar ao passado uma realidade esquecida.

sábado, 1 de maio de 2010

Blackout

            Sinto-me reles! Sujo, imundo, despercebido, desfalecido, ignorante, ao ponto de deixar o vento trespassar a minha coragem, levando a minha auto-estima, talvez ignorante por acreditar que a chuva pudesse lavar a minha esperança, nem apareceu, fui e manipulei, senti-me mais reles ainda, um bicho, só porque o que idealizei como um ritual consumado ainda não é uma realidade constante e aí quebrei as infinitas rotinas de que já fui dono, quem sabe se uma mera hipótese sem o oxigénio que me queriam tirar, mesmo assim senti-me esquecido por aqueles olhares bonitos, fui deixado, apercebi-me que amanhã podem cá estar, a manipulação foi ajudada por quem foi manipulado e certos olhos talvez não me tenham visto, outros olhares fazem tudo para não me verem, até sempre.
            Hoje sinto-me mal! Mau, raivoso, revoltado, triste, por ainda acreditar nos planos que delineei e por deixar a noite abafar os meus pensamentos, formulando palavras para aliviar a minha amargura. Hoje senti-me indesejado, cansado desta luta, perdido. Hoje…blackout_
            (Lentamente fiquei suspenso noutra dimensão).