quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Pianista

           Piano, capaz de tornar o abstracto em simples, de decifrar qualquer alma, cantor solitário que chora o seu destino em ambientes díspares numa cadência amortizada pelo luar denso, em suma, um triste, um amigo. Chamavam-me Yacob, como se alguma vez me tivessem conhecido! Nessa altura ainda tinha o Mundo como palco, apenas eu e tu o dominávamos, agora só nos resta o luar, porque o calor nos torna vulneráveis ao fracasso, mesmo assim é nele que desabafo todas as minhas frustrações com a tua ajuda, é nele que retoco o silêncio e afino a indiferença em cada nota, tudo se resumiu a esta sala onde descansas e a ti. Perdi a minha vida por ti, não te condeno, pois sem ti nem saberia estar neste silêncio que o calor atrai e que a chuva encanta. Toco e retoco peças sem fim, culminando vários objectos num, o pianista. Hoje não sou mais um objecto, nem um pianista, sou apenas um reles homem de roupas rasgadas que toca num piano desafinado, sem alma nem dinheiro para voltar a ouvir o seu piano como dantes.
          Yacob um dia morreu, o seu piano foi despejado na escuridão e morreu também no dia em que o seu pianista deixou de o amar, deixou-o morrer, morrendo sem um pedido de desculpas, acabaram zangados pela incapacidade de compreenderem o Mundo, em especial o de cada um.

1 comentário:

Anónimo disse...

Compreendo como ninguém.