terça-feira, 23 de junho de 2009

Anarquista Duval

Pela estrada fora vinha um homem
Encoberto pelas sombras da noite
Alguém lhe perguntou o nome
Sou uma miragem,
Dizem que semeio o caos e a destruição
Como o vento semeia as papoilas
O meu nome é... Liberdade

Vinha pela estrada fora a Liberdade
Encoberta pela noite das sombras
Sabes quem eu sou?
Perguntou ao candeeiro
És uma miragem
E pertences ao livro dos sublinhados provocadores
Que são os poetas
Almas sonhadoras

Anarquista Duval:Prendo-te em nome da lei?
Eu suprimo-te em nome da Liberdade!

Sublinhados provocadores, iam pela estrada fora
Carregando o livro das sombras
Da noite só restava o candeeiro
Encoberto

domingo, 21 de junho de 2009

Gnoma

Dá-me mais quero mais
Desse vinho bem forte
Acre sol estival
De uma vida em desnorte
Já perdi o que tinha
A família a consorte
Para ser mero pó
Falta só vir a morte a morte

Tem calma irmão
Que a morte está aí para todos nós
E à parte as mães
Ninguém pode afirmar de viva voz
Que deixa cá algo
Quando a vida nos solta enfim os nós

Serve então mais um copo
Boa noite a beber
Não fará mal pior
E dará p’ra esquecer
O vazio que me ataca
Esta dor de viver
A feroz solidão
Que me faz q’rer morrer morrer

Tem calma irmão
Que a morte não precisa do teu sim
É coisa certa
Mais vale fazer da vida um festim
Canta antes dança
Que a vida não te surja mais ruim

Cantar eu?

Dançar dizes tu...

Serve então mais um copo para ajudar

Tem calma irmão
Que a morte não precisa ser assim
Canta e vais ver
Que a vida não te larga mais por fim.

Creep

When you were here before
Couldn't look you in the eye
You're just like an angel
Your skin makes me cry
You float like a feather
In a beautiful world
I wish I was special
So fucking special
But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell am I doing here?
I don't belong here.

I don't care if it hurts
I wanna have control
I wanna a perfect body
I wanna a perfect soul
I want you to notice
When I'm not around
You're so fucking special
I wish I was special
But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell am I doing here?
I don't belong here.

She's running out again
She's running out
She run, run, run, runRun.

Whatever makes you happy
Whatever you want
So fucking special
I wish I was special
But I'm a creep
I'm a weirdoWhat the hell am I doing here?
I don't belong hereI don't belong me.

Confissões de um Lobisomem

O dia admiravelmente ainda consegue acordar, nesta manhã submersa em tiros furtivos e de água que cai estrepitosamente. Já acordei, mas os meus olhos continuam fechados com medo, porque não quero ver o que fiz. Parou de chover e o sol assume o seu lugar de destaque com um ar inocente e irrequieto, pois está a utilizar a sua luz na minha cara como incentivo à minha desgraça e eu do alto da minha voz cavernosa digo já chega, levantei-me e embrulhei-me num cobertor para tapar a minha nudez e as minhas roupas rasgadas da noite que passou.
Estou estoirado, mas ainda consigo andar para ver como estou, alcanço um espelho para ver minha cara devastada de sacrifício, mas hoje regresso para a minha casa, para o pé da minha família e dos meus amigos. Acabou, está tudo destruído, é um cenário desolador de devastação. Porque é que eu não me consigo controlar, não consigo raciocinar direito no que fazer, não consigo perceber a quem recorrer?
Em certas alturas dos meses saio de minha casa e venho para aqui, para o alto do ninho do falcão, para estar longe dos que amo, porque quando a lua se ergue cheia ao som das doze badaladas o meu corpo gela, o meu coração dispara por causa do sangue dar lugar ao veneno, consigo pressentir animais de sangue frio insaciáveis pelas suas presas, a roupa cede perante o crescimento imparável de meus pêlos, minha voz fica feroz de raiva e com apetências para uivar como um lobo megalómano, sinal da transformação de todo o meu corpo em um Lobisomem e é aí que começa o meu dia de matança percorrendo sete vilas acasteladas numa hora como forma de quebrar a minha maldição diária, destruindo tudo o que se puser no meu caminho, dilacerando a paz que tanto imploram nestas noites iluminadas pela luz dos demónios.
Recomeçou a chover e eu aproveito para lavar o meu corpo do sangue que na noite anterior foi derramado e a minha alma, enxugo-me na esperança e visto-me para regressar ao meu casebre de alegria e para ir à igreja rezar pelas minhas vítimas e por mim, porque em dias assim perco o meu controlo e devoro léguas de chacina que caiem a meus pés, mas por este mês estou descansado, já não há lua cheia. Estou amaldiçoado de viver como um animal ao lado destas presas provocadoras e nestes dias faço-lhes a vontade de as matar.
Serei uma aberração ou um justiceiro que promove a morte como forma de se alimentar e de lei, recriando o pânico na desordem que se instala nestas noites onde se suplica pelo aparecimento do sol? Está instalado um clima de terror e se calhar já suspeitam de mim, mas se tiverem essa ousadia, eu, quando a noite for iluminada por Lúcifer, arrancáreis-lhes o coração e quando o sangue jorrar em meu corpo vou uivar como sinal da vitória sobre as presas que se armam em caçadores de lobos, como eu. Que a paz nunca dure em noites assim, mas hoje sou homem e vou continuar a ser aquele rapaz doce, nem que seja para disfarçar a minha capacidade de dor e a que protagonizo nas minhas vítimas subjacentes à minha maldade.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Poema Corrido

Todos me julgam, sentem-se os maiores ao faze-lo,
Para vincar o seu existir,
Para voar pela minha tristeza,
Mas depois passa e esquecem,
Não pedem desculpa,
Seguem apenas
Sem se lembrarem que existem palavras que nos conseguem magoar.
Não é fácil arranjar força para sorrir
Quando nos apetece fugir,
Ao menos se houvesse uma explicação,
Uma alegria neste viver
Seria mais fácil emergir
Desta inerente solidão
Que me faz querer esquecer
A vontade que eu tenho de sorrir.
Como diria Fernando Pessoa:
“Pedras no caminho?
Guardo-a todas, um dia ainda vou construir um castelo...”
Para quê? Não teria ninguém para o mostrar,
Prefiro agarra-las e apedrejar-me
Com força para criar uma dor ainda maior
Do que viver aqui sem amor.
Cometeria um erro?
Talvez, mas ao menos não tinha que implorar
Pela atenção de ninguém,
Seguiria sujo e imundo pela estrada
E olharia para tudo se desviando da minha imagem
E sucumbido no sangue ou subjugado na dor
Pararia na estrada e cairia estrondosamente nela
Sem motivo aparente para me levantar
Ou que acreditasse que valeria a pena
Pensar em voltar deste miserável fim.
Quero ver chover
Para me lembrar como os meus problemas
São supérfluos aos olhos de toda gente
E para lavar a minha alma
Deste tédio que é viver
Sem saber como hei-de sorrir.