domingo, 4 de abril de 2010

Sociedade ao Sabor de um Café

              Lanço-me ao caminho, a noite está instável, não demorei muito a chegar ao destino, misturando gotas com brisas gélidas, entrei no Vila Baixa quando ainda escasseava a afluência, sento-me numa mesa, não demora a chegar um café quente misturado com um pouco de simpatia, mas ainda mal acabava de o saborear quando começou uma invasão de desconhecidos e conhecidos de vista e pessoais, é notável a quantidade de rostos bonitos, sobretudo desconhecidos, depositados em fragmentos de tecido, algumas são mesmo hinos à beleza, nota-se que foram concebidas em noites ou dias de grande inspiração, os meus parabéns.
             Já não restava mais o sabor do café em mim quando me apercebi que nenhuma daquelas deusas olhou para mim, aquele corrupio apropriou-se do Vila e deixou-me de fora, um nervosismo súbito abate-se sobre mim, sem demora puxo um cigarro esquecido ou perturbado, mas deixei de fumar, aliás nunca fiz deles um vício, os cigarros são apenas o espelho da alma e não me apeteceu fumar mais um cigarro cansado; ao som dos geográficos Jáfumega cresce dentro de mim outra vontade, a de pedir um copo de absinto para dar de beber à rejeição, mas a sucessão que iria iniciar a decepção, na sóbria manhã seguinte não apagaria aquele deslocamento que senti no Vila e chegaria à mesma conclusão, o Mundo é só para modelos e assimilares, o resto é lixo social. Levantei-me, paguei e voltei para onde sou mais um vizinho.

2 comentários:

O Padrinho disse...

Só tu...
Gostei do texto, por momentos tambem pensei que já fumavas!! xD
Um abraço

Ana Rita disse...

padrinho, nem tenho palavras. está lindo . se dizem que escrevo bem então tu és um às .
continua.