segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vazio Espelhado

           O vento abrupto que ferozmente navega por entre a paisagem esperançosa mostra-me que estou a perder o melhor que há na vida, a juventude. Tenho um desassossego dentro de mim, é evidente, sofrível, as palavras perdem a força, o calor tira tudo o que há de bom, enfraquece-as, torna-as ilegíveis, silenciosas, sobretudo as mais ternas. Sinto-me desiludido comigo mesmo, incompreendido, deslocado, excluído, raivoso, um triste. Caminho nesta estrada de uma direcção, faço-a sem um motivo, apenas ando por aqui destilando esquecimentos, enxovalhando-me na minha fraqueza. Tento fugir de todas as maneiras, talvez criando uma alegria inesgotável, mas acabo sempre preso no mesmo sítio. A minha destreza é insuficiente neste mar de contradições, tento reinventar os meus sonhos para destruir a minha imagem real. Não tenho vida própria, é uma vida apropriada e isso faz-me sentir reles, ridículo em tudo o que sei, incapacitado, conformado. Apetece-me desaparecer.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Incompreensível

           Como se pode combater contra uma pessoa de que se gosta? Estou cansado! Deito-me numa casa suplantada pela estrada, oiço o vento irrequieto agitando a paisagem, o calor deu-nos tréguas, sinto o Mundo a se desvanecer por entre a hipocrisia que ele criou. Vejo magia no fim-de-semana, de semana só penso no fim dela, mas na verdade o risco até agora não passou de umas noites carregadas de alegria e sonhos, sonhos que se dissipam em mais uma noite. Deixei-te de ver. Pingo atrás de pingo antecipa uma chuva certa apesar de fraca, mas simples, como eu, que sou apenas um nome, mais um nome, um desconhecido nome; deambulo por entre desconhecidos e nomes que me acenam timidamente, tento-te encontrar, em vão. Sento-me na calçada molhada, não me faz diferença a sua frieza, todas as minhas ambições, a imagem do teu rosto, as minhas inquietações caiem como esta chuva que brinda o meu corpo e me castiga o rosto, tento adormecer aqui, perdido, abandonado, já não sinto mais aquela ansiedade, afinal o teu olhar desapareceu, sinto-me despercebido. Passam pessoas por mim neste desassossego e por fim adormeço já em casa na esperança de que amanhã já te vou encontrar. Tenho saudades! Como é que se atinge a felicidade? Às vezes precisava, nem que fosse, de uma palavra.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Pianista

           Piano, capaz de tornar o abstracto em simples, de decifrar qualquer alma, cantor solitário que chora o seu destino em ambientes díspares numa cadência amortizada pelo luar denso, em suma, um triste, um amigo. Chamavam-me Yacob, como se alguma vez me tivessem conhecido! Nessa altura ainda tinha o Mundo como palco, apenas eu e tu o dominávamos, agora só nos resta o luar, porque o calor nos torna vulneráveis ao fracasso, mesmo assim é nele que desabafo todas as minhas frustrações com a tua ajuda, é nele que retoco o silêncio e afino a indiferença em cada nota, tudo se resumiu a esta sala onde descansas e a ti. Perdi a minha vida por ti, não te condeno, pois sem ti nem saberia estar neste silêncio que o calor atrai e que a chuva encanta. Toco e retoco peças sem fim, culminando vários objectos num, o pianista. Hoje não sou mais um objecto, nem um pianista, sou apenas um reles homem de roupas rasgadas que toca num piano desafinado, sem alma nem dinheiro para voltar a ouvir o seu piano como dantes.
          Yacob um dia morreu, o seu piano foi despejado na escuridão e morreu também no dia em que o seu pianista deixou de o amar, deixou-o morrer, morrendo sem um pedido de desculpas, acabaram zangados pela incapacidade de compreenderem o Mundo, em especial o de cada um.