sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um Decadente Homem

Em toda a sua plenitude o cenário era desolador,
Um pobre Homem caminha para casa vagarosamente
Sem pressa de chegar, sem amor pelo que está em seu redor,
Desmotivado e desinteressado pelo seu estado demente.

Recolhe a uma sala fechada
Onde um piano adormece inconsolado
Pela tristeza desbravada
Do seu executante quando é tocado.

Uma sala pequena que tinha nas paredes frases e apontamentos
Que aquele insurrecto Homem escrevia na sua amargura.
Pelo chão garrafas vazias impunham-se para esquecer momentos
De realidade, concebendo um estado ultra dimensional que perdura.

Em cima do piano repousava o contagiante livro do desassossego,
Em cima do livro um bocado de lata dando vida a um cemitério de cigarros,
Tudo estava num terrível e abismal, talvez inquietante, sossego
Até ele começar penosamente a tocar o hino dos desesperados.

Só o frio rasgava aqueles momentos de tensão
De notas descompensadas no seu tempo devido,
Sobre uma desconcentração que vinha do coração
Que perdeu a inspiração e a força com que era movido.

Aprendeu a não gostar de tudo o que um dia gostou,
Enquanto espicaçava aquelas teclas com a Creep dos Radiohead,
E sobre aquela magnífica melodia então apenas cantou:
“I love you so much, but I lost you in my head”.

Um improviso embargado pelas lágrimas comoventes
Que deixava cair sobre a sua tenebrosa dor
De não poder contar com mais ninguém para além daquelas cúmplices paredes
A quem ele confidenciava os seus segredos, medos, as tristezas e o seu rancor.

Saiu. Por vezes só aquela sala interessava,
Por vezes apetecia-lhe quebrar todas as regras que sabia,
Sair por entre indefinições e experimentar o que o ultrapassava.
Martirizava-se, sentia-se parvo por se ter apaixonado por quem não conhecia.

Voltou para casa imerso numa enorme escuridão,
Apenas quebrada pela chuva que caía abundantemente
No momento em que percebeu que vivia numa ilusão
Profunda, sem saber como sair e seguir em frente.  

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